sábado, agosto 25, 2007

Salão de Abril

Essa semana tava à toa voltando para casa, com os pensamentos a mil e sem ligar para o que me acontecia ao redor. Ao passar pelo shopping Benfica, percebi que tinha uma pessoa me seguindo. Olhei para trás e vi uma menina imitando cada gesto meu. Vestida de branco, também fez um gesto de exclamação e olhou pra trás como se tivesse uma pessoa invisível atrás dela. Saí de minhas angústias, dei aquele sorriso e parei de uma vez. Ela se esbarrou em mim e parou. Tentei andar para trás e ela também andou. Dei 3 pulos e ela me repetiu.
Enquanto isso, percebi que tinham outras cinco pessoas na rua, todas vestidas de branco, fazendo mímicas e também interagindo com o público. Naquela carreira de pontos de ônibus na frente do shopping tinha uma multidão de pessoas que olhavam aquilo rindo, achando tudo estranho, inusitado... Daí percebi o que tava acontecendo. Sim, a Semana do Salão de Abril tinha começado. Aqueles lá eram artistas fazendo uma intervenção urbana. Reservei uns minutos para ficar ali, parada na escada principal, observando a reação das pessoas. Incrível como essas coisas acabam dando um choque de humanidade, ao ver que alguns vêm andando com raivas, preocupações, dores, perturbações e de repente se deparam com pessoas interagindo com estranhos. Em pouco mais de 30 minutos que passei ali vi que a reação das pessoas era de desarmar e recepcionar os artistas. Poucos foram os que andaram mais rápido com o semblante de “aff... tem cada doido!”.
Infelizmente nascemos em um país regado de ignorância.
De uma hora para outra apareceu um senhor empalitozado com 2 seguranças á tira-colo, todos segurando rádios na mão. E chegaram para o garoto que estava registrando o evento falando que eram para eles pararem. Que eles não tinham autorização do shopping para se apresentar ali. Que a segurança estava chegando e que se eles subissem a escada do shopping ou entrasse seriam abordados pela segurança.
OPA! PÉRA AÍ! Volta a fita e repete isso.
A apresentação estava sendo feita na calçada. Pelo que eu sei as ruas, vias, praças e mobiliários são de uso comum do povo. Quem deu o direito de alguém nos privar da arte que se manifesta nos espaços públicos? Quem é esse sujeito que diz que vai chamar a segurança? SEGURANÇA? Segurança de quem? Qual a ameaça? Que tipo de censura nos deparamos no dia-a-dia?
Sabe o que mais me deu raiva? É QUE NINGUÉM SE MANISFESTOU!!!
Cheguei perto do “segurança-mor” e perguntei o que tava havendo. Qual o problema? A resposta: “Eles estão incomodando nossos clientes” (!!!!!!!!) Continuei a questionar: Me aponte um cliente que está aqui e que não está gostando. Um cliente que não pára para observar. Porque eu sou cliente de vocês e isso daqui me surpreendeu. E sabe o que me incomoda como cliente? A “segurança do shopping”. ISSO me incomoda como cliente. Uma “segurança” que me priva do direito de ter acesso ao espaço público e de tudo que acontece nele. Uma “segurança” que quer ter algum direito de gerencia sobre o espaço público. Mas a resposta que recebi foi: “Você não tem nada a ver com isso!”
O quê? Eu não tenho nada a ver com isso?
Olhei para os lados e observei toda aquela multidão que presenciava tamanho absurdo. Ninguém se sentiu agredido. Ou se sentiu não se manifestou.
É... É um povinho escroto mesmo esse.
Mas agradeço ao grupo artístico que simplesmente ignorou os seguranças e continuou em sua apresentação. Além de mostrar as reações individuais, conseguiu explicitar de maneira bem crua as reações coletivas: o “jeito pacato do brasileiro” (que pra mim é: o jeito otário, ignorante, subserviente e medíocre do brasileiro se comportar.).
Mas... vou continuar reclamando. Vou continuar me manifestando. Vou continuar agindo como acho que as pessoas deveriam agir nessas ocasiões. Continuo acreditando que a gente pode dar exemplo, sem se preocupar se as pessoas estão lhe achando ridícula por estar lá exigindo seus direitos. Porque aqui no Brasil, quem exige respeito incomoda!

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