segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Mais um capítulo

Início de ano interessante esse. Mais uma vez a Prefeitura mostra sua cara e, contando com sua covarde estratégia de manipulação e gestão burra, consegue aprovar o Plano Diretor com o aumento dos índices urbanísticos para a maior especulação e um desconto de 50% na outorga onerosa do direito de construir para que o SINDUSCON faça a festa. E depois não terá quem agüente dar ouvidos aos ambientalistas da “base política” da prefeita a bradar por ventilação, espaços livres, Fortaleza Bela e verde.

Mas hoje eu quero fazer outro tipo de crítica. Voltemos à crítica dos profissionais da área. Àqueles arquitetos que não tem nenhum compromisso com a cidade. Aqueles que estão a serviço dos proprietários de terra e que reproduzem o discurso débil tecnocrata. Aquelas pessoas limitadas que sujam a imagem da classe. Lembremos-nos que, graças a Deus, existem pessoas que fazem a diferença. Não vamos generalizar. Porque a cada merda que esse povo fala, tenho que ser mais firme na defesa da minha profissão.

Apesar dessas criaturas bizarras que se dizem arquitetos de “prestígio” ainda terem algum tipo de visibilidade, acredito que um dia essas pessoas morram. Profissionalmente já vemos a morte política de alguns que já são conhecidos como pilantras e picaretas. Ou de outros que são ridicularizados pelos discentes nas universidades. Sendo suas declarações na mídia motivo de piada nos corredores das universidades.

Neste processo, ficou mais claro para quem essas figurinhas repetidas trabalham. Bem que eu não tinha muita dúvida disso, visto o histórico de cada um. O que temos presenciado nada mais é que profissionais desalinhados com o período político. Profissionais que ainda vivem o movimento moderno em pleno mundo globalizado e que utiliza de conceitos superados para enfatizar um modelo de desenvolvimento falido.

Este domingo o jornal O Povo dedicou 4 páginas para debates sobre o Plano Diretor. Muito interessante mesmo. Resolvi destacar alguns trechos sintomáticos:

Pérola 1
“Fujita também reclama da abrangência das chamadas ZEIS, voltadas para solucionar o problema das ocupações irregulares. " Nos arredores da Santos Dumont, por exemplo, existem ocupações irregulares que a prefeitura quer tornar ZEIS. Mas não se pode negligenciar a vocação para comércio e serviços em toda aquela área. As ZEIS devem se restringir apenas à área irregular", diz.” Leia-se: Nesse filezinho de cidade, pobre não pode morar. Porque eu, todo poderoso especulador, sei que a vocação desse lugar aqui é comércio e serviço para os ricos que moram aqui por perto. E o fato de ter um monte de favelas aqui por perto não significa que aqui seja lugar pra pobre. Quer reassentar esse povo sujo e inconveniente, que reserve um terreno lá nas quebradas sem água, esgoto, vias, transporte nem serviços. Porque lá que é o lugar deles. Ta louco? Pobre morando na Santos Dumont? Onde já se viu isso?

Pérola 2
“O arquiteto José Sales critica a falta de suporte técnico no novo projeto. "Este besteirol sempre divulgado da morte do planejamento urbano e do nascimento desta nova ordem participativo popular é uma mensagem puramente midiática", afirma.” Bem... acho que esse “besteirol” eu não preciso comentar. Qualquer pessoa esclarecida consegue perceber o naipe desse daí. Até porque o que está sendo discutido não a morte do planejamento (o cara é tão sem noção que não sabe nem o que está em jogo. Ou sabe e acha que fica bem na fita fazendo papel de besta).

Pérola 3
Rochinha- "Uma das principais reclamações do órgão (IAB) é a ausência, segundo afirma, de um "desenho" da cidade que se pretende construir e ainda à falta de uma fundamentação teórica." Bem... é triste ver que o presidente do IAB não consiga ler o desenho de cidade sugerido neste Plano Diretor. Ignorância é o ó. (Ou poderemos também fazer a leitura da conveniência deste tipo de declaração para quem quer desqualificar o processo). Existe um desenho sim! Um desenho urbano inclusivo. A implantação de instrumentos do Estatuto da Cidade de combate a especulação e incentivo para que seja exercida a função social da propriedade. Um Plano Diretor resultado dos anseios da população. (Por mais que o processo tenha sido falho devido às seguidas sabotagens da prefeitura e do SINDUSCON.) Devo ressaltar que EU NÃO SOU SÓCIA DO IAB E NÃO ME SINTO REPRESENTADA POR ELE. Meu conselho é o CREA e estou participando das discussões internas. Apesar de lá também estar tudo dominado.

Pérola 4
“Não sei se isso (a metodologia de participação popular) é produtivo. Não sei como um plano diretor pode ser feito com uma multidão debatendo em um ginásio. É preciso um foro qualificado para este debate, do contrário vira uma balbúrdia" diz o arquiteto Romeu Duarte, superintendente do IPHAN” Não vou rebater uma declaração tão estúpida como essa. Vindo de uma pessoa que não participou de nenhum momento. Não foi a nenhuma reunião de bairro, nenhuma audiência e se acha no direito de abrir a boca e falar tamanha bobagem. Bem... é outro ignorante. Ignora o trabalho de formação que foi feito com as lideranças. Trabalho feito brilhantemente pelo CEARAH Periferia. Porque a prefeitura promoveu uma encenação dizendo que era formação. E ainda assim mal e porcamente. O Movimento Popular, depois das oficinas e cursos, estava tão preparado que os profissionais e empresários foram pegos com as calças na mão, sem avaliação do documento e sem propostas. Chegaram ao ponto de promover o golpe que foi o adiamento do Congresso (E não esqueçamos da chancela da Prefeitura). Engraçado que eles mesmo estavam utilizando o discurso de ter maior debate. Logo eles que prejudicaram os momentos de diagnóstico e formação. Logo eles que diziam que o tempo urgia. “Mas pra quê formar a população? Vai que depois eles se apoderam dos direitos deles e a gente não poderá mais bani-los da vista dos nossos clientes classe A. Apesar do nosso esforço em protegê-los dessa gentinha através dos supercondomínios fechados. Aff... esse povo aí querendo saber de reforma urbana, morar perto de nós... é mesmo o fim do mundo.”

Bem... mas vamos refletir... vamos prestar atenção em declarações como a do Fujita quando diz que a ZEIS ainda vão ser discutidas (imagino quantos vereadores receberão um leve mensalão patrocinado pelas construtoras para vetar as ZEIS). Mas é isso... continuarei observando.

3 comentários:

artz disse...

"O que eu espero senhores, é que depois de um breve período de discussões todos concordem comigo" Winston Churchill

Essa frase se aplica muito bem à Prefeitura e sua democracia participassiva.

Blimunda disse...

kakaka. Rindo pra não chorar, Arthur...

Thêmis, vou linkar esse teu post, tá?

Borboleta disse...

pode linckar.
beijus pra tu